uma orelha para o fracasso

inscritos no corpo do fracasso, o não e o nada e o irrealizado e o impossível e o silêncio e tantas outras marcas da negatividade, são objetos da pesquisa que aline dias delineia nesta publicação. a escrita, em forma de inventário, coleciona aquilo que, não
existindo, obsedia. a arte em forma (?) de projeto, desejo e fracasso demarca, no interior das fronteiras do universo da existência, o não-ser.
...
uma das categorias de classificação dos fracassos que aline demarca é designada como “possivelmente irrealizáveis”, expressão que condensa a potência daquilo que, provavelmente, não chegará a existir, mas que, em sua própria inexistência, persiste. forja sua potência a partir da matéria (?) mesma da sua não existência.
...
apesar do trabalho, do esgotamento do corpo, da sua exaustão, da sua labuta. a despeito da vontade, do desejo. apesar.
...
mas não é apenas de uma negatividade simples, um discreto não-ser. é um fracasso: aquilo que, desejando ser, não é. e, mesmo não sendo, deseja.
...
e é assim que, mesmo carecendo da substância consistente do ser, o fracasso deixa marcas que aline soube, que aline viu e interrogou; muito além ou muito aquém, muito distinto, afinal, da “lição terapêutica dos erros”.

ana lucia vilela