outra orelha para o fracasso

a. esse livro trata (talvez) do que ainda não aconteceu;

a. esse livro aponta para o que está prestes a afundar;

a. esse livro está cavando um túnel no ar;

a. esse livro foi parcialmente escrito do outro lado do oceano;

b. cada página possui muitas camadas soltas, como se fossem folhas em desnível;

b. cada folha possui um chão plano. uma planura quase infinita, que desliza/desliga a leitura;

c. os relatos (miudamente) fisgados por ela pressupõem uma escuta infra-ordinária, que deita no chão junto com gatos, com os pêlos soltos dos gatos ou com os pêlos presos de uma fatia de pão muito bem mofada. uma escuta que acompanha de perto os comboios desacelerados dos casulos das traças;

c. ela parece escutar o vazio entre (p)ilhas de poeira, os fins de (suas) pedras que bóiam e os silêncios franzinos detrás das moitas de capim;

d. pode-se dizer que esse livro respira uma potência enquanto processo de pesquisa em arte. ele parece estar pendurado no tempo de uma possível/impossível continuação;

d. pode-se pensar que esse livro é mais longo/longínquo do que ele parece, e mais denso/inacabado do que cada pedaço de fracasso/por vir;

e. a palavra fracasso carrega uma fraqueza quase lâmina, transparente e opaca, como uma fadiga inconclusa. a palavra fracasso se parece com o peso dos sopros que ela tenta medir e captar;

e. para ela, talvez desertos alisem poeiras desfocadas (com lápis de cor escolar), mesmo que sejam restos não rastreáveis (porque achar ou perder poeira num deserto = a leitura desse livro);








f. ela = aline dias;
f. uma lista um pouco lenta (para um livro súbito),

 raquel stolf