no telefone um artista me disse que tem especial apreço pelo fracasso de giacometti, relatado no livro um retrato de giacometti, em que o autor descreve as sessões em que o artista faz o seu retrato e inúmeras vezes destrói a imagem.

no telefone, eu perguntei sobre um trabalho, de uma caneca de cerâmica, bastante pesada, que exigia ser segurada com as duas mãos. ele pretendia usar aquela caneca em casa. o peso fazia com que se tornasse mais difícil conciliar a atividade de beber água com outras coisas. a idéia era estar presente. evitar beber água automática e apressadamente, mas estar atento e consciente do seu gesto. eu perguntei desse trabalho e ele me disse que se sentia patético quando tomava água, quando olhava a caneca. ele me disse que a idéia toda da caneca estava ligada a um contexto específico, e que representava uma resposta a uma demanda programada, a uma sensibilidade que se estava propondo formar naquele contexto. ele dá aula de artes no ensino básico e secundário. eu perguntei como ele convivia com o fracasso que é dar aula.

eu conversava com ele no telefone e sabia que ia me esquecer de quase tudo, sobretudo das palavras que ele tinha dito.