em malone morre, o personagem de samuel beckett fala de trabalhos que não terminam senão deixando-os de lado. trabalho chato e de utilidade duvidosa, como são grande parte dos trabalhos. ele diz que poderia escolher lentilhas até o amanhecer que seu objetivo, deixá-las limpas de toda a impureza, não seria atingido. pararia no fim, dizendo, fiz o que pude. mas não teria feito o que poderia. ele diz: vem sempre o momento quando a gente desiste, por esperteza, desanimado, mas não ao ponto de desfazer tudo o que já tinha feito.
ele se autoquestiona: mas se a sua meta ao escolher lentilhas não era afastar tudo o que não fosse lentilha, mas só a maior parte, e daí? não sei. há outros trabalhos, outros dias, quando a gente pode dizer sem se enganar muito que está acabado. embora eu não veja quais.