no ateliê descrito por balzac, em a obra-prima ignorada, a pintura a que se dedica obsessivamente o pintor não apresenta, de longe, nada além da materialidade da tinta e das pinceladas numa superfície informe. quando os personagens se aproximam, conseguem perceber, em meio à desordem de cores, um fragmento de pé, no canto da tela.
didi-huberman diz que o pé, nessa cena, é o pan, é o que resta do processo da pintura e do seu fracasso em relação ao ideal de seme-lhança (a mulher representada). ele diz ainda que o sonho de uma pintura perfeita, sem restos, significa uma submissão a um ideal matemático (adequação ao projeto de representação) ou de metamorfose (o desejo de que a pintura tome a forma do que representa).