francis ponge não obteve aprovação final na licenciatura em filosofia por não conseguir falar no exame oral.
em métodos, ele deseja que o homem, cansado de ser considerado um espírito (a convencer) ou um coração (a perturbar), passe a se conceber como algo de mais material e de mais compacto, de mais complexo, de mais denso, de mais bem ligado ao mundo e de mais pesado a deslocar (mais dificil de mobilizar). não o lugar onde idéias e sentimentos vêm nascer, mas onde se confundem e se destroem.
ele reivindica uma insubordinação resoluta às idéias e fala dos artistas e das obras de sua preguiça. que trabalhar, ao artista, significa, antes de qualquer outra coisa, não fazer nada.

no texto tentativa oral, transcrição de uma conferência em bruxelas em 1947, ponge comenta o absurdo do propósito de fazê-lo falar. ele diz que escreve porque gosta mais de viver sozinho. diz que escreve contra a palavra oral e as besteiras que solta numa conversa. que escreve contra as insuficiências de expressão, por um mal-estar e vergonha contra a palavra oral, para se corrigir ou se vingar.
ele diz que, quando falamos, roubamos silêncio, e invoca as coisas presentes: paredes, tábuas, chaves nos bolsos, coisas que se calam à força, a contragosto.




ponge diz: eis a definição das coisas que amo: são aquelas de que não falo, de que tenho vontade de falar e não consigo.